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“Levantei-me de madrugada...”

No final de 2013, passei uns dias de férias na minha cidade natal, Cambé, no Paraná Em uma determinada noite, reuniram-se os cinco filhos vivos dos meus avós maternos, Antonio Guizilini e Carmela Pedro Antonio. Entre uma conversa e outra, entre cantorias e contos, foi rezada em coro uma canção-oração que, segundo minha mãe e meus tios, era oração diária da minha avó Carmela, a última oração que ela rezou antes de morrer. 

A oração é conhecida como Levante de madrugada fui varrer a conceição. Como eu estou pesquisando sobre o folclore brasileiro, resolvi buscar as fontes dessa oração. Um dos maiores folcloristas brasileiro, o historiador potiguar Luís da Câmara Cascudo, comenta: “É um antigo laudatório português, ainda cantado no norte de Portugal”. Nosso folclore religioso brasileiro tem sua origem, na maioria das vezes, nas tradições portuguesas antigas. É possível que se cantassem esses versos em Portugal mesmo antes da colonização do nosso país. Aqui no Brasil, essa canção ganhou várias versões, com estrofes próprias para cada região do país. Em homenagem aos meus avós e a pedido do meu tio, transcrevo a seguir a versão que minha avó costumava cantar:

“Levantei de madrugada fui varrer a conceição.
Encontrei Nossa Senhora com seu raminho na mão. 
Eu lhe pedi um galhinho e ela me disse que não, 
Tornei a repetir e ela me deu o seu cordão,
Seu cordão deu sete voltas e arredondou meu coração, 
Numa ponta tem São Francisco, na outra tem São João,
No meio tem um letreiro com a Virgem da Conceição.
Quem essa oração rezar três sextas-feiras no ano
Livrará sua alma do inferno com toda sua geração. 
Quem ouvir não aprender, quem souber não ensinar 
Lá no dia do juízo vai saber o que vai passar. 
Quinta-feira da anuência, sexta-feira da paixão,
Olha o sábado de aleluia, domingo da ressurreição. 
Ofereço esse bendito pro Senhor da Santa Cruz, 
Que nos livre do temido inferno, que nos livre Amém Jesus”. 

Muitos de vocês já devem ter ouvido de seus pais e avós essa mesma canção. Escreva-nos contando sua história. 

Pe. Luis Erlin, cmf 

Artigo publicado originalmente na seção “Testemunho de Vida” da Revista Ave Maria, edição de março de 2014