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A cruz do Papa Francisco

Desde que assumiu a cátedra de Pedro, o Papa Francisco convida a Igreja a repensar seus valores e atitudes, de modo especial na ação pastoral. Acredito que uma das imagens que mais simboliza o seu pontificado seja a cruz peitoral que leva consigo. A cruz com a figura do Bom Pastor não foi escolhida pós-eleição papal: o Santo Padre já a utilizava. Esse símbolo representava uma meta de vida de Jorge Mario Bergoglio, que agora se tornou a utopia de um novo tempo na Igreja: o pastoril.

No centro da cruz, está o Bom Pastor. Como ele está no eixo, poderíamos pensar que representa a figura mais importante. No entanto, o maior símbolo é o que ele carrega: uma ovelha em seus ombros, ao redor de seu pescoço. Talvez a ovelha mais necessitada, a mais carente, aquela que tenha se machucado nas encruzilhadas da vida. 

No regaço do Bom Pastor, essa ovelha encontra acolhida, não é julgada nem condenada. Simplesmente é amada. Nos ombros do pastor, ela se refaz, volta a experimentar o que é pertencer a uma família de fé. A cabeça da ovelha, que outrora estava perdida, agora está encostada no peito do Bom Pastor, do lado do Coração. A ovelha que andava sem rumo recebe as pulsações do coração do pastor em seu ouvido. Ao provar desse amor, ela nunca mais será a mesma.

A ovelha está tranquila, sentindo-se segura, amada, nos braços do pastor que a ama. O pastor não é representado pelo clericalismo, pela pompa, por posses. De sandálias, com a roupa surrada, demonstra que não está preocupado consigo, com seu bem-estar, mas deseja ardentemente que suas ovelhas tenham vida. O pastor não fica na sacristia esperando que as ovelhas lhe beijem a mão, mas vai ao encontro da desgarrada e lhe beija as feridas. 

Atrás do pastor, estão as ovelhas já dentro do aprisco, seguras, pastando sem medo. Nenhuma dessas ovelhas parece olhar com desconfiança para aquela que está nos ombros do Bom Pastor, pois sabem acolher com misericórdia aquelas que precisam entrar. Com toda certeza, cada uma delas provou do abraço purificador do pastor, por isso elas também sabem acolher. 

O que guia o Bom Pastor é o Espírito Santo. Não há missão sem foco: não é o pastor que decide por onde caminhar, ele é guiado, conduzido. Isso indica que o pastor ouve as instruções do Espírito, que existe uma ligação entre um e outro. 

A cruz de Francisco sinaliza um tempo novo para a Igreja, porém é necessário que nós, leigos, religiosos, padres e bispos, abracemos essa mesma cruz, na busca de uma Igreja inflamada pelo Espírito que sai de si mesma para encontrar os que se extraviaram.

Pe. Luis Erlin, cmf 

Artigo publicado originalmente na seção “Testemunho de Vida” da Revista Ave Maria, edição de outubro de 2013