Facebook Padre Luís Erlin Instagram Padre Luís Erlin

@padreluiserlin

A inevitável solidão de quem sofre

Quando estamos enfermos, ou passando por algum problema, por mais que tentemos explicar o que estamos sentindo, sempre nos dá a sensação de que não fomos convincentes. O outro que nos ouve, não vive a angustia, a dor, a ansiedade e o desespero que estamos vivendo. Por isso, frases do tipo -“Deixa disso! Vai passar! ” “Calma, isso não é nada! ” Parecem abrir um abismo intransponível entre aquele que padece e aquele que o ouve. 

A solidão do enfermo é inevitável, pois cada pessoa é única. Por mais esforço que o ouvinte faça para entender a dor e sofrimento do padecente, nunca é possível entrar na alma do outro e sentir como ele se sente. 

 Mesmo que o doente esteja rodeado de amigos e parentes, o sentimento de estar sozinho é reprimido, não por gosto ou por desejo, mas pela própria natureza humana. Nessas horas, mesmo que tenhamos todas as mãos do mundo acariciando nossos ombros, na tentativa de nos consolar, o que predomina é a “orfandade espiritual”. 

Como padre, atendendo confissões, já me deparei com muitos casos em que eu percebia o sofrimento extremo do penitente diante de mim, mas, mesmo assim, eu não conseguia mensurar o quanto sua alma estava ferida.

Ouvir, sem se preocupar em dar uma resposta certa, talvez seja a única atitude digna. Dessa forma não estamos julgando ou desvalorizando aquilo que para nós talvez seja só uma dor, mas para quem sofre seja a maior angústia de sua vida. 

Já passei por essa situação: quando eu ¬ fiquei enfermo, lembro-me do suplício que era enfrentar um médico, uma enfermeira, um hospital, no qual o atendimento era muito rápido. Em minutos, eu devia dizer onde doía. Mas a dor maior não era na cabeça, no estômago ou em qualquer outra parte do corpo. A maior dor, naquele momento, era o medo, a insegurança, o vazio e a solidão que eu sentia.

Humanizar o atendimento em hospitais e outras instituições de saúde é atender a pessoa como ser humano, e não somente como uma parte do corpo ou um objeto inanimado. Talvez pela grande demanda de nossos hospitais, sobretudo os públicos, a justificativa para esse atendimento relâmpago, a que me refiro, seja a falta de tempo e de profissionais. Porém, pequenos gestos podem fazer toda diferença.

Um olhar de interesse nos olhos do enfermo, por exemplo, pode fazer com que ele tenha mais autoconfiança, naquele momento em que ele se sente extremamente solitário. Se o enfermo estiver em sua casa, não o menospreze, mesmo que a razão do seu sofrer seja só uma unha encravada, por exemplo. 

O outro sempre será o outro. Lidamos com situações parecidas, porém sempre de formas diferentes, por isso não cabe julgar a intensidade do sofrimento alheio. Quando se ama verdadeiramente, se sofre junto por um fio de cabelo perdido.


Pe. Luís Erlin, cmf 

Artigo publicado originalmente na seção “Testemunho de Vida” da Revista Ave Maria, edição de fevereiro de 2012


Crédito Imagem: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2021-01/papa-francisco-mensagem-dia-mundial-enfermo-proximidade0.html