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 A toalhinha molhada de suor do “APÓSTOLO”

É praticamente impossível que você, ao zapear os canais de TV, nunca tenha parado alguns minutos para ouvir o pastor – desculpe, pastor não, bispo... errei de novo... – o apóstolo, o autointitulado apóstolo Valdomiro. Difícil não ter se deparado com ele, pois o “apóstolo” está, sem exagero, mais de 18 horas no ar diariamente. 

Os cultos são um show, sem muito conteúdo religioso. O que mais aparece são os relatos de curas das mais variadas. O próprio “apóstolo” se encarrega de escolher ao vivo os milagres mais surpreendentes. Se a conversa sobre a graça não flui, ele logo escolhe outra pessoa que faça chorar ou emocione mais os telespectadores. 

Nos cultos em praças abertas, o “apóstolo” fica lavado de suor. Sempre em seu ombro está uma toalhinha para que ele possa se enxugar. Depois que a toalha foi usada, joga-a para a multidão, que literalmente se estapeia para conseguir a “relíquia”. “Relíquia?” Sim! Para seus fiéis, o suor do apóstolo é milagroso. 

Vamos por parte, não seria justo escrever este artigo para ridicularizar a fé desse povo, mas tem alguma coisa que eu não compreendo. Esta é minha dúvida e por isso escrevo sobre esse assunto: mais de uma vez eu ouvi o pastor pregando contra a mediação dos santos, o uso de imagens pelos católicos etc. Vejo em tudo isso uma incoerência muito grande. Como sabemos, nós não adoramos imagens. Elas nos recordam os homens e as mulheres que passaram pela terra e hoje, juntos de Deus, têm o poder de interceder por nós. 

No caso do “apóstolo”, ele foi “canonizado” em vida. Segundo os fiéis, é ele quem “opera os milagres”. A toalha do “apóstolo” Valdomiro embebida de suor é a divinização do humano. 

Desculpem se eu estiver sendo muito duro, mas nesse caso, e em muitas outras igrejas evangélicas que visam o lucro, o centro da pregação não é o Cristo, não é a Bíblia, não é a mensagem que liberta, mas a tentativa de endeusar “pastores”, “bispos” e “apóstolos”. 

O endeusamento desses líderes religiosos transforma a fé do povo em cegueira, na busca do milagre, da graça... e o povo, em desespero, se deixa manipular facilmente. Na Igreja Mundial do Poder de Deus, os fiéis não pagam mais o dízimo, mas o “trízimo”: 10% para o Pai, 10% para o Filho e 10% para o Espírito Santo – e todo esse dinheiro está sendo investido na compra de um avião de grande porte para as viagens do “apóstolo”. 

A toalhinha molhada de suor faz milagres. Disso ninguém pode duvidar.



Pe. Luís Erlin, cmf 

Artigo publicado originalmente na seção “Testemunho de Vida” da Revista Ave Maria, edição de março de 2011