“Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.” (Lucas 1,39-41)
O Arcanjo Gabriel anuncia a Maria que Isabel, de idade avançada e considerada estéril, também espera um filho graças à ação providencial de Deus (cf. Lucas 1,36).
Logo após receber o anúncio, Maria parte para o lar de Isabel, pois deseja partilhar a graça. Testemunhar e acolher o testemunho dos outros é o fundamento de uma comunidade que deseja crescer na experiência de Deus.
Nesse trecho do evangelho de Lucas, a Mãe de Deus dirige-se com pressa às montanhas. Correr é uma marca do evangelho quando se trata de comunicar algo imprescindível: se analisarmos os relatos da ressurreição de Jesus, sobretudo o de João, perceberemos que o verbo “correr” aparece muitas vezes. Maria Madalena, Pedro, João... todos correm para dar seu testemunho ou fazer um importante anúncio.
Depois de um grande acontecimento, no entanto, é necessário silenciar. A viagem de Maria pelas montanhas foi uma ótima oportunidade para que ela pudesse refletir sobre tudo o que havia lhe acontecido desde o anúncio do Arcanjo Gabriel.
Muitas vezes, somos acometidos de situações inesperadas, que exigem de nós uma assimilação. Sair do ambiente que estamos, respirar novos ares e dar um tempo é uma atitude salutar.
Maria sabia que enfrentaria resistência: estava grávida ainda solteira, num tempo severo em relação ao comportamento da mulher. Era necessário dar uma explicação ao seu noivo José; pessoalmente, ela precisava se situar. Por isso, o evangelista diz simbolicamente que ela atravessou as montanhas: Maria sobe num ponto alto para de lá avistar a totalidade de sua história.
Ali, a Mãe de Deus não examina o fato isoladamente, mas a conjuntura da ação de Deus. Quando os fatos são vistos no particular, por mais esforço que façamos, nem sempre conseguimos compreendê-los. Por isso, é mais difícil dar uma res - posta positiva e assertiva.
Muitas vezes nos desesperamos em determinados casos porque não conseguimos fazer uma leitura histórica de nossa vida. Com Maria, aprendemos que a prudência é a chave da sabedoria.
Ao entrar na casa de Isabel, a saudação de Maria enche a anfitriã de alegria. O encontro de Jesus com João Batista, ainda nos ventres de suas genitoras, demonstra que Nossa Senhora tem o poder de abrir caminhos para que seu filho, o Salvador, possa ser adorado.
A alegria é a marca daqueles que se encontram com Jesus. A presença de Maria, cheia de Deus, é capaz de transmitir aos demais o Espírito Santo que a fecundou do Amor.
Quando estamos repletos do Espírito também somos embaixadores de Deus, transmitindo aos que encontramos as virtudes e forças necessárias para seguir adiante. Podemos ser alegria, esperança, sinal de bênção em momentos difíceis na vida dos que nos cercam.
Parar e pensar nos sentimentos que despertamos nas pessoas que se aproximam de nós é um ótimo exercício para vermos até que ponto somos a presença de Deus no mundo.
Pe. Luís Erlin, cmf
Artigo publicado originalmente na seção “Testemunho de Vida” da Revista Ave Maria, edição de maio de 2012
