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Misericórdia: suportar as feridas alheias

Dentro das igrejas e comunidades religiosas, encontram-se muitas pessoas frustradas. Primeiro, porque o entendimento que elas têm de religião é a da perfeição, ou elas se escondem atrás daquilo que imaginam como perfeito. Dentro dessa visão, não pode haver o reconhecimento das fraquezas e debilidades, pois elas se sentiriam menos santas. 

Ademais, o não conhecimento de si não pode gerar outra coisa além da frustração. Essas pessoas representam papeis, como se a comunidade religiosa fosse um grande teatro ou até mesmo uma brincadeira de esconde-esconde, onde eu convivo com você sem que você saiba quem eu sou, ou ignoro quem você seja, mesmo sabendo muito bem que você é e vice-versa. Criamos trincheiras na defesa de nossa imagem. 

Está tudo errado! Se nossa vida é assim, então nada aprendemos da mensagem de Cristo; não podemos ser considerados cristãos. 

Deveríamos ser uma comunidade de pessoas chagadas e cicatrizadas; enxergar em nossas deficiências o trunfo de termos sido escolhidos pelo Senhor, não porque somos bons, mas porque ele deseja fazer uma obra nova em nossa vida. Uma comunidade não se constrói sob a sombra do que somos às escondidas. Nossa riqueza não está no que imaginamos ter de melhor; ela está no fato de sermos nós mesmos. 

Talvez aquilo que tanto tentamos esconder seja nossa maior riqueza, seja nosso legado. Isso não significa que temos que escancarar a nossa vida; significa, sim, que temos que viver a máxima da misericórdia, em que eu vejo a miséria do outro pelos olhos do coração, pois antes eu fui capaz de reconhecer minhas próprias misérias. 

Os amigos de Jó dão um testemunho de como se portar diante da ferida alheia:
“Três amigos de Jó, Elifaz de Temã, Bildad de Chua e Sofar de Naama, tendo ouvido todo o mal que lhe tinha sucedido, vieram cada um de sua terra e combinaram ir juntos exprimir sua simpatia e suas consolações. Tendo de longe levantado os olhos, não o reconheceram; e puseram-se então a chorar, rasgaram as vestes, e lançaram para o céu poeira, que recaía sobre suas cabeças. Ficaram sentados no chão ao lado dele sete dias e sete noites, sem que nenhum lhe dirigisse a palavra, tão grande era a dor em que o viam mergulhando.” (Jó 2,11-13).


Artigo publicado originalmente na revista Ave Maria, em abril de 2016, com base no livro Onde estão tuas feridas, aí está a tua salvação, escrito pelo Pe. Luis Erlin e publicado pela Editora Ave-Maria