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@padreluiserlin

Na hora de nossa morte

A morte talvez seja um dos grandes mistérios da nossa vida. Sabemos que dela não escaparemos. 

Saber da existência, mas não conhecer esse grande silêncio gerado pelo instante do último suspiro, a não mais existência na forma física, desperta em cada um de nós uma profunda angústia. A fé religiosa, seja ela qual for, sempre nos indicará que a morte não é o fim. Sabemos e cremos nisso. No entanto, não a conhecemos, pois ainda não passamos por esse vale. 

O que sabemos é o que aprendemos da fé que professamos. Porém, a fé, por mais vivida e convicta que seja, não tirará de nós a incerteza e a inquietação de saltar para o desconhecido. A fé nos prepara, nos conforta, nos dá esperança, enche de sentido a nossa vida. Diante da travessia, sempre existirá um silêncio, uma orfandade espiritual, como a fragilidade de uma criança. 

Para nós, cristãos, a certeza da vida eterna fundamenta-se no Cristo, naquele que abriu as portas do Paraíso, garantindo a todo gênero humano a certeza da vitória sobre a morte. São inúmeras as passagens bíblicas que falam sobre essa certeza do novo mundo que se abre assim que fechamos definitivamente os nossos olhos nesta realidade corpórea.

O próprio Cristo, que rompeu com os grilhões da morte, que nos encaminha para o encontro definitivo com Ele, passou por uma angústia profunda antes do fim de sua vida humana. Jesus Cristo, sendo Deus, experimentou o sofrimento humano diante do inevitável. Os evangelhos relatam a dor de Cristo horas antes de ser condenado e crucificado. Mas na hora da morte, ele é representado como alguém sóbrio, plenamente convicto de sua missão e da certeza de que sua vida não terminaria ali. Esse talvez seja o grande presente de Deus na hora de nossa passagem.

Como padre, já acompanhei muitas pessoas em estado terminal.

Os dias que antecedem a morte de uma pessoa são de angústia e de medo do desconhecido, mas na hora da morte, existe uma força arrebatadora que cala quaisquer consequências. Na hora da morte, parece que é o próprio Deus que vem morrer em nosso lugar. Existe uma entrega, algo sem explicação. 

Talvez, no instante do último suspiro, Deus nos mostre que viveremos para sempre em sua presença. Talvez, Ele dia ao nosso ouvido: “Não temas, ainda hoje estarás comigo no Paraíso”.

Pe. Luis Erlin, cmf 


Artigo publicado originalmente na seção “Testemunho de Vida” da Revista Ave Maria, edição de novembro de 2013