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Quem tem “medo” do Papa Francisco?

No início deste ano, participei de um encontro de editores católicos de toda a América Latina, na cidade de Bogotá, Colômbia. Convocado pelo Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), o objetivo do encontro era conhecer e dar a conhecer tudo aquilo que estamos produzindo em nosso continente, como veículos de comunicação impressa.

Em uma das exposições, foi abordado o vigor da igreja com a presença do  Papa Francisco, e nos foram passados os resultados de uma pesquisa feita nos Estados Unidos sobre a aceitação do Santo Padre pelos americanos. O resultado, surpreendeu a mim e a alguns amigos com quem tive a oportunidade de conversar depois.

As camadas mais distantes da Igreja, os ateus ou pessoas de religiões diversas – sobretudo de religiões não cristãs – veem o papa como um grande líder, alguém que merece respeito, e acreditam na benevolência de suas intenções.

Os católicos não praticantes sentem um sinal de esperança com as possibilidades de mudança da Igreja. Muito afirmaram que haviam retomado o hábito de frequentar a igreja e as missas.

Os católicos de missas diárias também estão contentes com Francisco. O clero, em sua grande maioria, também demonstra esperança.

Porém, o setor em que o Papa Francisco mais incomoda, segundo a pesquisa, é justamente aquele em que menos se esperava: os seminários. Esses seminaristas (não todos, mas a maioria dos Estados Unidos), veem com desconfiança algumas atitudes do Papa. Sobretudo alguns pronunciamentos, em que ele convoca os padres ao não clericalismo, a não viverem o sacerdócio como um status social ou religioso. Alguns seminaristas confessaram ter medo do futuro da Igreja, de forma mais específica, sobre o futuro da função sacerdotal que eles irão assumir.

Embora o resultado da pesquisa cause certo estranhamento, se fizermos uma análise profunda das muitas instituições formativas (seminários, conventos etc), veremos, de forma lamentável, que ainda prevalece o carreirismo.

As consequências dessa atitude são inquestionáveis: falta de misericórdia pastoral; falta de compromisso com as fragilidades da humanidade; uma vaidade exacerbada, apegada mais ao rito e ao poder do que ao serviço.

Diz-nos o Papa que “o verdadeiro poder é o serviço”. Mas será que é esse o poder que muitos de nós, “Igreja”, queremos, almejamos, buscamos? Quem tem medo do Papa?


                                                                                                                                                                               Pe. Luís Erlin, cmf.


                                                                  Artigo publicado originalmente na revista Ave Maria, edição de junho de 2014